Apesar de parecer recente, a Inteligência Artificial (IA) tem raízes que remontam ao início da década de 1940, quando surgiu com o objetivo de simular a inteligência humana por meio de máquinas. Sua popularização, no entanto, ganhou força apenas nos últimos três anos, impulsionada pela expansão do ChatGPT e pela crescente produção de conteúdo como vídeos, imagens e vozes sintéticas inclusive em outras ferramentas. A partir de 2015, com os avanços do aprendizado de máquina (machine learning), a IA passou a se destacar, especialmente na identificação de padrões a partir da análise de grandes volumes de dados.
APLICAÇÕES – O uso da IA permite a realização de tarefas específicas com desempenho considerado ‘sobrehumano’. O data engineer, João Pedro Giordani Donassolo, ressalta o exemplo de carros autônomos, a previsão do tempo, a identificação de áreas de desmatamento por imagens de satélite e os algoritmos de recomendação de conteúdo nas redes sociais. Tais aplicações já fazem parte da rotina de muitas pessoas e empresas, mas o potencial da tecnologia vai muito além disso.
IMPACTO NAS MARCAS – O uso da IA também vem se consolidando no setor corporativo, especialmente no marketing e na produção de conteúdo. O PhD e mestre em comunicação em práticas de consumo, Marcos Hiller, informa que “falam muito que hoje não é mais DNA, hoje é DNAI, um termo que estão usando de como que a IA está impregnada na cultura de marcas”. A agilidade tecnológica oferece execução de tarefas e torna os processos mais eficazes, promovendo a redução de custos e de tempo, sem comprometer a qualidade. Inclusive, as marcas já se beneficiam com o avanço das produções audiovisuais para se promover e desenvolver novos produtos e serviços.
EDUCAÇÃO – No contexto educacional, os desafios são outros. Apesar da legislação federal que restringe o uso de celulares para fins educacionais nas escolas, muitos estudantes ainda utilizam esses recursos de forma inadequada. O acesso a conteúdo superficial e não verificado, contribui para a disseminação de fake news e pode gerar dependência, impactando negativamente o desenvolvimento do pensamento crítico e da aprendizagem.
Para a psicóloga e orientadora educacional, Ana Kiara Franzão, a orientação para os alunos é essencial. “Na escola em que trabalho são realizadas palestras e atividades que orientam o uso de IA de forma equilibrada e consciente, como maneiras adequadas de realizar pesquisas. Não deixamos de aproveitar as ferramentas que facilitam o trabalho do próprio professor ou também a utilização que acontece por parte dos estudantes, em uma produção audiovisual ou outros recursos que a aprendizagem possa ser mais significativa”, relata.
“A IA não pode e não deve ocupar o lugar daquilo que é mais valioso no desenvolvimento humano: o esforço próprio, o pensamento original e o orgulho do que é verdadeiramente nosso”, conclui Ana.
CUIDADOS – Ainda que promissora, a Inteligência Artificial exige atenção quanto aos seus impactos negativos. Para Hiller, é fundamental que o agente humano não se torne dependente da tecnologia. “Usar o ChatGPT atrofia nossa criatividade. Quando você recorre a alguma coisa, aciona menos o cérebro e ele atrofia”, observa, com base em pesquisas realizadas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Outro ponto de alerta diz respeito ao consumo de recursos naturais. A operação de modelos de IA consome grandes quantidades de energia elétrica e água, o que levanta o impacto nas questões ambientais. Além disso, as limitações da tecnologia permanecem evidentes em situações que exigem compreensão de nuances, como ironia ou sarcasmo e portanto não substituem a originalidade e criatividade dos humanos.
Apesar de contar com sistemas de segurança e filtros que restringem a criação de conteúdos nocivos, como discurso de ódio, violência e fake news, a IA pode ser explorada de forma indevida. Há casos em que tais barreiras são burladas, permitindo a produção de conteúdos impróprios. Golpistas também utilizam essas ferramentas para simular vozes e rostos em chamadas de vídeo, com o intuito de aplicar golpes e praticar crimes como estelionato.
ALÉM DA BOLHA – Com um olhar crítico, Hiller propõe uma reflexão que vai além do entusiasmo generalizado com a tecnologia. “Estão investindo dinheiro nas empresas de IA e os investidores querem retorno o quanto antes. Vamos ver se esta bolha vai estourar ou não. Sem exercer nenhum tipo de futurologismo aqui, mas acho que é necessário entender o que está acontecendo de um jeito muito cauteloso”, analisa.
Segundo ele, o entusiasmo com a IA não deve obscurecer os riscos de concentração. “As empresas de IA vão se concentrar na mão de poucas pessoas. Quatro ou cinco empresas que vão dominar. Isso não é democratizar a informação ou a tecnologia, mas isso gera desigualdade”, alerta.
Por Julia Sperafico Fonsatti.